Em abril de 2019, a empresa líder mundial em consultoria empresarial Mckinsey & Company lançou o Brazil Digital Report, a primeira edição de um dossiê sobre o cenário brasileiro na atualidade, incluindo o cenário digital, do empreendedorismo e da inovação.
O documento mostra que o Brasil oferece muitas oportunidades interessantes e que tem muitos desafios (ou oportunidades de inovação) para impulsionar a produtividade, o crescimento e os avanços sociais.
Segundo o relatório, os dados apresentados destinam-se a todos aqueles que podem desempenhar um papel na condução da agenda de inovação no país – empreendedores, investidores, instituições públicas e privadas, líderes empresariais globais -, bem como brasileiros com conhecimento digital, curiosidade e interesse pelo assunto.
A McKinsey recebeu o apoio do Brazil at Silicon Valley, um movimento liderado por estudantes que começou na Universidade de Stanford, cuja missão é melhorar a competitividade e a relevância global brasileira por meio de tecnologia e inovação.
O estudo se ancorou em quatro pilares principais: Macroeconomia, Perspectiva Digital, Ecossistema do Empreendedorismo e Análises Profundas de Setores.
Neste artigo, focaremos no pilar da Perspectiva Digital. A seguir, fique com os principais insights do Brazil Digital Report.
Perspectiva Digital
De forma resumida, apontamos algumas das principais conclusões do estudo:
- Brasileiros gastam mais de 9 horas por dia conectados (esta é uma das taxas mais altas do mundo).
- Brasileiros ocupam a 2ª ou 3ª posição no ranking mundial no uso das plataformas líderes de mídia social, incluindo Facebook, Instagram, YouTube, Netflix, WhatsApp e Pinterest.
- A publicidade digital continua a crescer na escala de dois dígitos, assim como o comércio eletrônico, a economia compartilhada e os serviços de entrega em domicílio.
- A inclusão digital está apenas começando: o acesso e a proficiência variam amplamente entre regiões, classes sociais e faixas etárias.
- As velocidades da Internet são mais lentas do que em muitas economias desenvolvidas e emergentes.
- A penetração do comércio eletrônico é baixa: categorias inteiras ainda estão dando seus primeiros passos. Mesmo que os brasileiros sejam consumidores ávidos de mídia digital, eles ainda não estão fazendo muitas transações ou gastando dinheiro online.
No decorrer do artigo, aprofundaremos as afirmações acima citadas com a apresentação de dados e percentuais.
De modo geral, o consumidor brasileiro está pronto para a disrupção digital. De várias formas, isso já começou:
Mais de dois em cada três brasileiros têm acesso a smartphones e à internet
- Até 2017, 67% da população brasileira entre 16 e 64 anos tinha acesso à Internet, sendo que a média global é de 53%. O Brasil ocupa a 10ª colocação mundial.
- O Brasil está alinhado com a média percentual global de pessoas que usam smartphones: 71%. Neste quesito, continuamos ocupando a 10ª colocação mundial.
- Quanto ao sistema operacional, 84% dos brasileiros usam Android, 15% usam iOS e 1% usa Microsoft.
Quanto ao tipo de conexões de Internet usadas em nossos smartphones, a divisão fica assim:
- 3G/4G: 71%
- Somente WiFi: 25%
- Sem conexão: 4%
Perfil do usuário de internet
O típico usuário de internet no Brasil é urbano (53% de mulheres e 47% de homens), tem menos de 45 anos, se encontra entre as classes A-C e acessa a internet via dispositivos móveis.
Dispositivos
- Smartphone: 90%
- Notebook: 38%
- Desktop: 37%
- Tablet: 17%
- TV: 12%
- Videogame: 7%
Brasileiros gastam mais tempo usando serviços baseados na Internet do que seus equivalentes nos EUA
Horas por dia
- Internet (qualquer dispositivo): Brasil: 9,1; EUA: 6,3
- Redes sociais (qualquer dispositivo): Brasil: 3,4; EUA: 2,0
- TV (emissoras, streaming e video on demand): EUA: 4,0; Brasil: 3,4
- Média de tempo gasto diariamente ouvindo música via streaming: Brasil: 1,2; EUA: 1,1
Os brasileiros conectados estão entre os mais ávidos usuários da internet
9h/dia, sendo 5,0 em PCs ou tablets e 3,9 em mobile. Neste quesito, o Brasil só perde para as Filipinas.
O uso da internet brasileira é altamente concentrado em aplicativos e sites e relacionados a conteúdo e social
Ranking (pelo número mensal de visitantes):
- YouTube
- Globo.com
- UOL
- Mercado Livre
- Live.com
Uso de aplicativos – atividades diárias feitas em computadores ou smartphones (ordem decrescente de uso)
Chats online; redes sociais; notícias; motores de busca; música; emails; vídeos online; softwares para escritório; chamadas de voz/vídeo; jogos; assistentes virtuais; mapas/GPS; e-learning; compras online.
Streaming de vídeo
Netflix
- Mais de 7,5 milhões de usuários – mais usuários que a NET (TV por assinatura).
- País de língua não-inglesa mais ativa do mundo para a plataforma.
- Receita maior que o SBT (canal de TV).
YouTube
Mais de 69 milhões de espectadores por mês (# 2 no mundo).
Vários canais brasileiros lideram as classificações globais de assinantes:
- # 4 Kondzilla – 46 milhões
- # 14 Whinderson Nunes – 34 milhões
- # 24 Felipe Neto – 30 milhões
>>> Saiba como fazer streaming de vídeo ao vivo pela Internet
Mobilidade
Uber
- Mais de 20 milhões de usuários.
- Mais de 500 mil motoristas.
- Presença em mais de 100 cidades no Brasil.
- Mais de 1 bilhão de viagens.
99
- Mais de 18 milhões de usuários.
- Mais de 600 mil motoristas.
- Mais de mil cidades no Brasil.
Waze
Mais de 3,8 milhões de usuários em São Paulo (líder global). O Rio de Janeiro é a primeira cidade parceira do mundo.
Redes sociais (aplicativos do Facebook)
- Mais de 130 milhões de usuários.
- Terceira maior base de usuários do mundo.
- O Brasil é um país piloto para novos produtos (Stories for Events, Facebook Gaming).
- Mais de 50 milhões de usuários.
- Segunda maior base de usuários do mundo.
- Mais de 120 milhões de usuários.
- Aplicativo de comunicação mais utilizado no Brasil.
- 91% de penetração entre os usuários de internet.
Redes sociais (outros aplicativos selecionados)
- Mais de 30 milhões de usuários.
- Sexta maior base de usuários do mundo.
- Mais de 29 milhões de usuários.
- Terceira maior base de usuários do mundo.
- Mais de 19 milhões de usuários.
- Segunda maior base de usuários do mundo.
- País com o maior crescimento.
>>> Vídeos nas redes sociais: consumidores e marcas não vivem sem eles!
Serviços de entrega de comida
ifood
- Mais de 390 mil entregas diárias.
- Mais de 50 mil restaurantes.
- Mais de 120 mil entregadores.
- Mais de 480 cidades no Brasil.
- Crescimento de 109% nas entregas em 2018.
- Investimento em 2018: US $ 500 milhões.
Rappi
- Mais de 800 mil usuários.
- Mais de 15 cidades.
- Investimento em 2018: US $ 220 milhões.
Uber Eats
- Mais de 1700 restaurantes.
- Mais de 30 cidades.
- Mais de 200% de crescimento anual desde o lançamento (2017).
- Parcerias estratégicas: McDonald’s, Subway, Ipiranga etc.
- Investimento em 2018: US $ 480 milhões (global).
Streaming de áudio
Spotify
- Mais de 13 milhões de assinantes.
- Maior serviço de streaming de áudio no Brasil.
Deezer
- Mais de 3 milhões de assinantes.
- Parceria com a TIM, criando a plataforma TimMusic.
Mercado brasileiro de games
- Mais de 60 milhões de jogadores (3º no mundo).
- 375 estúdios de games.
- Mais de 1700 games produzidos em 2018.
- Receita anual de mercado de mais de US $ 1,3 bilhão.
Ecossistema Google
- 97% de participação de mercado dos motores de busca.
- 5º lugar mundial em visitantes online.
- Único país além dos EUA com uma completa infraestrutura do ecossistema do Google.
Criação/uso de aplicativos para dispositivos móveis
- Mais de 6 bilhões de downloads de aplicativos por ano (4º lugar no mundo).
- Média de 83 aplicativos instalados e uso de 12 aplicativos por dia.
- 4º maior produtor de aplicativos do mundo.
Os smartphones estão entre os dispositivos com maior penetração no Brasil
Porcentagem da população que usa cada tipo de dispositivo:
- TV (qualquer tipo): 95
- Telefones móveis (qualquer tipo): 89
- Smartphones: 71
- Notebook ou computador desktop: 38
- Tablet: 15
- Dispositivo para streaming de conteúdo de internet para TV: 7
As velocidades da Internet ainda são mais baixas do que em muitas economias desenvolvidas
Velocidade da Internet na banda larga fixa (Mbps, 2017):
A média global é 31, e a do Brasil é 13, ficando à frente apenas das médias da América Latina, do Oriente Médio e da África.
>>> Você sabe qual é a velocidade mínima para transmitir vídeo ao vivo na Internet?
Comércio eletrônico
O comércio eletrônico cresceu rapidamente nos últimos cinco anos …
- Compradores: 31,3 milhões em 2013 – 55,1 milhões em 2017
- Gasto médio: R$ 429,00
- Número de pedidos: 111,2 milhões (Black Friday de 2018)
… mas a penetração do e-commerce no Brasil ainda é menor que a da China e das nações desenvolvidas…
O Brasil aparece em 11º lugar, com penetração de 6% do mercado, à frente apenas da Índia e da Rússia (ambas com 5%). Em 1º lugar, a China apresenta penetração de 20%, e os EUA ficam em 4º lugar, com 12%.
…. com considerável variação na penetração nas categorias de produtos.
- Brinquedos e jogos: 29%
- Eletrônicos: 20%
- Eletrodomésticos: 10%
- Vestuário: 4%
- Beleza/cuidados pessoais: 3%
- Casa e jardim: 1%
- Cuidados domiciliários, bebidas alcoólicas e comida embalada: menos de 1%
As compras online são divididas em vários setores, mas telefones e eletrodomésticos são responsáveis pela maior parte dos gastos:
- Telefones móveis: 21,2% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 998,00
- Eletrodomésticos: 19,3% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 767,00
- Eletrônicos: 10% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 1.192,00
- Hardware e software de computadores: 8,9% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 848,00
- Cada e decoração: 8,4% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 343,00
- Vestuário e acessórios: 6,1% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 184,00
- Beleza e cuidados pessoais: 4,8% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 172,00
- Esportes: 4% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 268,00
- Alimentos e bebidas: 2,2% dos valores gastos, com ticket médio de R$ 236,00
Hoje, 32% das compras de e-commerce são feitas por meio de telefones celulares
- 71% dos brasileiros usam celulares para acessar a internet.
- Grandes varejistas relatam 60% a 75% do tráfego de dispositivos móveis e 35% a 45% do total de vendas de comércio eletrônico.
Conclusão
“Consumidores brasileiros adotam novas tecnologias cedo. Como resultado, as empresas, especialmente os varejistas, aproveitaram os aplicativos como extensões de suas operações digitais. Quando vemos os diferentes segmentos de mercado, o varejo é o que tem a maior penetração de aplicativos ”, relatou Felipe Almeida, gerente de anúncios para produtos de aplicativos no Google.
Ao nosso ver, o maior valor do Brazil Digital Report – além da atualidade de seus dados – é mostrar o contraste entre o protagonismo assumido pelo país em várias frentes digitais e o imenso potencial de amadurecimento de inúmeros mercados.
Em suma, a economia digital brasileira apresenta grandes desafios, os quais também podem ser interpretados como grandes oportunidades. Alguns ajustes estruturais (melhoria da qualidade das conexões à Internet) e o incentivo a mudanças comportamentais (aumento das compras online) podem ajudar a fortalecer a presença brasileira no cenário econômico internacional.
Você pode acessar o Brazil Digital Report na íntegra aqui.